Quem sou eu

Scambio em italiano quer dizer troca. Eu,ou melhor,Martina,estou aqui, junto com minha amiga Pollena para trocar. Uma espécie de permuta de ideias entre duas brasileiras que atualmente vivem na Itália e que fazem deste blog um ponto de encontro.Amigos especiais estao convidados a SCAMBIAR conosco. O que acha Pollena?Nada melhor que:CONVERSAR,COMER e COZINHAR.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ok, você venceu, Martina!


            Bom, como vocês viram, Martina é essa doce pessoa que escreveu o post anterior.  Eu relutei muito em participar de tudo isso (deste blog), porque por mais que ela me diga que somos iguais, devo dizer que nossas vidas tomaram um rumo bastante diferente.
            Martina tem uma linda visão romântica de tudo que está vivendo neste momento. Afinal, não é para menos, pois trocou o tufão que era sua vida em São Paulo, por uma brisa calma dos mares do sul da Itália.
            Eu, ao contrário, depois de quase 4 anos (somando idas e vindas), já estou em outra. Ainda vivo em terras italianas, mas o meu pé (esticando bem), já está quase tocando a terra brasilis. (Hei, em abril estou aí!)
            Outra coisa que me difere de Martina neste momento: ela quer falar de si, da fábula que escolheu. Quer mostrar os seus sentimentos, talvez para reforçar para si mesma que este foi, sim, o melhor caminho que traçou para a sua vida.
            Já, eu, não quero expor o meu EU mais puro aqui (apesar de ter certeza que todos os nossos atos deixam transparecer quem somos). Quando digo puro, me refiro aquele EU que revelamos para poucas pessoas (uma delas, no meu caso, a própria Martina).
            Sei que os blogs de sucesso falam aquilo que as pessoas querem e precisam ouvir. Afinal, vivemos em um mundo de solidão, em que é mais fácil encontrar um semelhante na rede do que na esquina de casa.
            Não estou dizendo que isso é negativo, pelo contrário! A internet intensifica as relações sociais.
            No momento, é dessa maneira (virtual) que me encontro com Martina. Apesar de termos nos visto pela primeira vez de forma presencial, é através do MSN que agora estamos coligadas.
            (Inclusive Martina, volta e meia, dá uma de psicóloga virtual, tentando me tirar dos momentos escuros).
            Ops! Falei algo íntimo! Não, disso eu não quero falar.
            Aliás, eu não sei ainda sobre o que quero falar aqui. Já deixei isso claro para a Martina. Mas ela não deu a mínima e insistiu para eu estar aqui com ela.
            Então, Martina, me quer ainda por aqui?
                                                                                                                                                Pollena

Cara amiga Pollena,

A dificuldade em se ter todo o tempo do mundo é saber escolher qual a melhor forma de se preencher todo este tempo. É um luxo ter todo o tempo do mundo ajoelhado aos meus pés. Ainda mais vivendo neste século onde nao há tempo para nada.
O receio de ser esta a única oportunidade me deixa ansiosa, pois se há tanto tempo assim ,o que ha tanto a se fazer?Você já se fez esta pergunta?
O que exatamente você gostaria de fazer se tivesse todo o tempo do mundo a sua disposição?
Será perda de tempo ou ócio obrigatório?
Para que então precisamos de tanto tempo?
A propósito, somos nos responsáveis pelo nosso tempo?

Quem é  que comanda as leis da vida?O que diriam de tudo isso?
Esta certo ter todo o tempo do mundo para não se fazer nada, ou temos que preenche-lo com muitas atividades?

Eh preciso estar preparado para esta vivencia do ócio obrigatório. Caso contrario você pode cair no desespero. O pior desespero é  quando se tem tudo que se deseja e não se sabe como viver no meio de tudo isso.


Eh fácil viver uma vida quando se têm um trabalho com horários rígidos, amigos e encontros sociais. A gente só descobre isso depois que não se vive mais essa pratica. O difícil é saber como conduzir a própria vida quando ela te joga na cara que a partir de hoje você é  o único responsável pelos seus atos.Fácil é  ir levando a vida. Quando se vive uma vida sem escolhas conscientes, você acaba tirando toda sua responsabilidade perante os acontecimentos, pois afinal de contas a vida quis assim. Você age como um ator coadjuvante diante dos acontecimentos da vida. Difícil é quando você escolhe ser o autor  deste filme.

Hoje o desafio é  saber viver bem e plenamente uma vida solta, sem regras e culpas.
Sair de uma sociedade que te cobra o tempo inteiro, onde o valor esta em ter e não ser, e cair de cabeça em uma vida onde você é o autor do filme pode ser mais difícil do que se parece.
A vida em São Paulo foi projetada por alguém que não conhecemos, mas que de qualquer forma seguimos a este comando como se fossemos atores coadjuvantes correndo atrás de mais afazeres, dinheiro, pois afinal de contas temos que comprar as novidades eletrônicas, jantar no restaurante badalado ou comprar aquela bolsa da moda.
Essa rotina louca repleta de horários, afazeres, amigos, encontros, coisas materias não permite que possamos enxergar claramente quem somos. Em São Paulo tudo se confunde, amigos, família, pensamentos que às vezes nem são nossos.

Viver uma vida como meu mestre Osho prega “Não confiando em tua cabeça, e sim em teu coração”. Na mente passa tanta coisa, sentimentos que não são nossos e que muitas vezes carregamos de nossos familiares. Idéias que às vezes não concordamos, mas que estão sempre em nossa cabeça. Enfim , o desafio é caminhar adiante seguindo os desejos e anseios de nosso coração.

Se você começar a se olhar no espelho a sua realidade aparecera em forma de defeitos, pensamentos ardilosos e sentimentos descabiveis que nem você sabia que existia dentro de você. Estes podem ser as causas de seus problemas, ou problemas dos outros que você carrega.
Se você quer se ver no espelho sem maquiagem pode estar certo de que esta é a melhor experiência.
Aqui se aprende a viver, ou melhor, aqui é uma oportunidade de se olhar e reparar a verdadeira essência que é você. Cabe a cada um saber como conduzir esta explosão de pensamentos e sentimentos.


Em São Paulo não há tempo para pensar, pois há muito o que fazer. Se você parar e começar a pensar pode ate enlouquecer com seus questionamentos sobre como esta conduzindo sua via neste exato momento.Perguntas como : porque correr tanto?O dinheiro me leva para o lugar que eu desejo?Eu sei realmente o que eu quero? A felicidade é completa quando se compra tudo o que se deseja?

Qual o segredo para se desconectar de uma vida tão veloz e louca para viver uma vida sem pressa onde possamos ter nossos próprios pensamentos e desejos?Viver uma vida de percepção sem julgamentos e pré-conceitos. Simplesmente deixar os acontecimentos e os pensamentos fluírem, pois quem garante que estes pensamentos são seus? E sim de toda uma massa humana que gira em torno de você e que esta sempre a sua volta controlando o ar que você respira?

Em uma determinada idade da vida sinto que temos que reavaliar nossos valores.

Sabe uma coisa, cara amiga Pollena, nestes poucos dias de reflexão forcada ainda não tive tempo para regar o meu jardim, saborear o doce sabor do pomodoro e me permitir sentir a vida fluindo como o vento gelado de inverno que bate em meu rosto.